Planejada por Oscar Niemeyer, a pedido de Juscelino Kubitschek, para ser a nova capital da República, Brasília é a capital do poder. No entanto, muito em breve, a região localizada no Centro-Oeste do país poderá ganhar outro título: a capital dos evangélicos. A afirmação tem como base uma pesquisa recente, encomendada pelo Conselho de Pastores do Distrito Federal, que mostra que um em cada cinco brasilienses é evangélico.
O resultado, considerado animador, mostra um outro lado de uma região que respira política. Pelo levantamento do Conselho de Pastores do Distrito Federal (Copev-DF), a comunidade evangélica congrega ali 600 mil pessoas, representando 25% da população. “Somos pioneiros com 37 anos de história. Hoje, com várias outras instituições e muitas igrejas independentes, conseguimos manter a unidade entre duas mil igrejas, líderes pastores e bispos de diferentes denominações”, comemora o presidente do Copev-DF, Josimar Francisco Souza, afirmando que os maiores shows e concentrações religiosas ocorrem por meio dos evangélicos.
A expansão de fato aconteceu na última década. Em 2000, por exemplo, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), havia 400 mil evangélicos, cerca de 18,7% da população. Havia apenas 3,6 mil templos. Hoje são 4,7 mil templos localizados em diversos pontos da capital. Outro fator que ajudou foi a migração religiosa. Desde que foi registrada a forte presença dos evangélicos na capital, o número de centros espíritas e trabalhos esotéricos reduziu de 2,6 mil para 1,5 mil pontos. Uma mudança expressiva para a região que já carregou o rótulo de capital do esoterismo.
“Hoje conseguimos manter a unidade entre duas mil igrejas, líderes pastores e bispos de diferentes denominações”, comemora o pastor Josimar Francisco Souza, afirmando que os maiores shows e concentrações religiosas ocorrem por meio dos evangélicos
A justificativa vai além do boom dos evangélicos em todo o Brasil, apontado no Censo de 2000 do IBGE. Uma das causas, segundo os especialistas consultados por Enfoque, deve-se ao forte trabalho social que as igrejas evangélicas fazem e o investimento pesado em comunicação. Para se ter noção, Brasília, que está entre as dez cidades com maior concentração de evangélicos, abriga geradoras de rádio e TV. Dentre elas, a Rede Sara Brasil e a TV Gênesis, ambas da Igreja Sara Nossa Terra.
Outra explicação é a grande participação política e social. É o que acredita o bispo da Igreja Sara Nossa Terra e deputado federal Robson Rodovalho. Para ele, é natural, devido à proporção numérica, que os evangélicos conquistem tratamento diferenciado, principalmente na parte política. “Os evangélicos precisam ocupar espaço na sociedade. Precisam participar mais da educação, das artes e da política.” Mas não é o que acontece. Na cidade, onde as grandes decisões são tomadas para o país, já que em Brasília é onde ficam o presidente, deputados e senadores, o Copev reclama não receber apoio. “Isso não nos incomoda.
Precisamos mesmo é depender de Deus”, rebate Jocimar Souza, que tem um departamento dentro do Conselho de Pastores para cuidar dessa relação. Para o pastor, a atuação da igreja evangélica, principalmente nas áreas sociais, é forte, apesar de não ter nenhum tipo de incentivo.
Para o bispo e deputado federal Robson Rodovalho, os evangélicos precisam participar mais da educação, das artes e da política, principalmente na região que já carregou o rótulo de capital do esoterismo
No caso de Brasília, a participação social deveria ser ainda mais forte, numa parceria para a criação de uma frente entre as instituições religiosas e o poder público, no sentido de resgatar a cidadania dos mais carentes. Segundo um estudo da Universidade Federal de Brasília, 43% das famílias nos arredores do Plano-Piloto têm renda entre dois e dez salários mínimos. Por conta dessa desigualdade e má distribuição de renda, um bolsão de pobreza foi gerado em torno da região. Sem condições de igualdade, a violência também cresceu no local. “No entorno do DF crescem a pobreza e a violência, mas também cresce a igreja, o povo de Deus”, diz o líder do Copev.
De fato, a igreja tem feito sua parte levando cidadania aonde o Estado não chega. “É preciso levar o pão. Não só a Palavra”, explica a acadêmica Renata Andrade, 26 anos. Freqüentadora da Assembléia de Deus, a estudante de Psicologia realiza trabalhos sociais em parceria com amigos da igreja e da faculdade na Vila Estrutural, um bairro que começou na década de 1960. “A igreja deve ser uma voz profética. Deve sair das quatro paredes e do egoísmo e mostrar um Deus completo”, afirma a voluntária. Na cidade onde a política nem sempre tem trazido notícias positivas, só mesmo a fé em Jesus e a transformação social são capazes de gerar a esperança de que dias melhores virão – a partir da capital do poder para todo o país.
Nenhum comentário:
Postar um comentário