domingo, 27 de abril de 2008

Delirious fala à Enfoque


Banda inglesa chega ao Brasil

Criativos, ousados e alternativos. Adoradores extravagantes. Em tudo, revolucionários. A começar pelo nome. “Delirious?”, assim mesmo, com ponto de interrogação para provocar questionamentos e reflexões já à primeira vista. Mas, afinal, que banda é essa? É gospel ou secular?

Para os cristãos que ainda não ouviram falar, vai uma dica: quem nunca cantou “Santo é o Senhor” e “Cantarei Teu Amor para Sempre”, gravada por Aline Barros, ou “A Canção da Alegria”, por David Quinlan? Para aqueles que afirmavam jamais ouvir música cristã, eis a possibilidade de mudar de idéia. Delirious? há mais de uma década rompeu os limites do templo e conquistou seu espaço junto ao mercado secular. Envolvidos pela qualidade dos arranjos e a profundidade literária das letras, não só o povo cristão tem sido cativado pelo rock delirante dessa banda que vem alargando fronteiras e revolucionando não apenas a igreja, mas o pensamento do mercado internacional com relação à música gospel no mundo.

Tudo começou em 1992 quando cinco jovens da pequena Arun Community Church – Littlehampton, interior do Reino Unido – tiveram a incumbência de produzir e tocar algumas canções para o retiro de jovens, realizado anualmente pela congregação. Martin Smith (vocalista), Stu Garrard (guitarrista), Tim Jupp (tecladista), Jon Thatcher (contrabaixo) e Stew Smith (baterista) se empenharam tanto que o povo pediu bis. Dois anos depois, a banda – que já levava o nome do evento – gravava seu primeiro trabalho, um EP* intitulado The Cutting Edge 1. O sucesso fora tão grande que a cada ano um novo projeto era gravado. E vieram The Cutting Edge 2 e 3 e Fore. E junto com eles um sonho. Queriam anunciar o Evangelho além dos templos. Desejavam quebrar preconceitos, aniquilar tabus e inovar, mostrando a todos que na igreja existe arte de qualidade capaz de impactar até mesmo o mundo secular.

Largaram seus empregos para se dedicar com exclusividade à música. Mudaram o nome da banda para Delirious? e, pensando em vôos mais altos, criaram seu próprio selo (Furious?), lançando como gravadora independente o primeiro projeto, intitulado Live & in The Can.

Em cinco anos de trabalho, Delirious? já despertava a atenção do mercado na Europa. Mas foi em 1997, com o lançamento do álbum King of Fools, que a banda se consagrou, comemorando o terceiro lugar dentre os grupos musicais da Grã-Bretanha com maior número de CDs vendidos no ano. Logo surgiram as turnês pela América, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e o projeto, ao vivo, “d:Tour Live @ Southampton”. Em 1999, Delirious? chega ao topo do mercado americano quando seu álbum Mezzamorphis obtém o primeiro lugar entre os mais vendidos dos Estados Unidos.

No ano seguinte, o grupo grava Glo, que continua ascendente, recebendo a reputação de melhor álbum gospel do continente europeu. E os shows, para 30, 60 e até 80 mil pessoas, por todo o planeta, não param. Em outubro de 2001 surge Deeper, uma coleção do melhor de uma década de Delirious?. O single de mesmo nome, lançado anteriormente ao álbum, ocupa a 20ª posição entre as músicas britânicas mais tocadas da Inglaterra, concedendo à banda uma oportunidade pioneira para um grupo musical evangélico.

Em seguida, o grupo se junta ao produtor Chuck Zwicky (Semisonic, Prince, Madonna) para lançar o álbum Audio Lessonover e este, mais uma vez, é sucesso entre os ingleses. Em 2003, Delirious? lança o duplo Access:d, seguido por Lidertad, onde 12 de suas melhores canções são regravadas no idioma espanhol pelo próprio Martin. Mantendo a tradição de gravar um trabalho a cada ano, os roqueiros seguem com World Service (2004), The Mission Bell (2005), Now Is the Time (2006) e, em abril de 2008, irão lançar o álbum Kingdom of Comfort com singles já disponíveis no site delirious.org.uk.

Mas para quem pensa que as produções de Delirious? chegaram ao fim, engana-se. A banda gravou, produziu e participou de diversos outros projetos musicais, entre eles especiais junto ao Ministério Hillsong e Hillsong United da Austrália, como o Unified Praise, e também a canção Healing Rain, com Michael W. Smith, escrita pela própria banda a pedido de Michael.

Resumir em tão poucas linhas o currículo de Delirious?, seus 15 trabalhos, diversos prêmios e troféus – entre eles, o de melhor álbum de adoração em 2004 e 2005 na Europa e Estados Unidos – é missão quase impossível. Secularmente comparado à famosa banda U2 – suas canções também tratam do cotidiano da vida moderna, dos relacionamentos interpessoais, vida com Cristo e questões globais como catástrofes, Aids, fome, aborto, miséria, humanitarismo etc. –, tem recebido apoio pioneiro no mercado secular, sendo, por exemplo, a primeira banda evangélica a disponibilizar, para download, músicas cristãs no iTunes.

Apesar do rótulo, a banda já se apresentou em grandes eventos, como nas turnês de Bon Jovi e Bryan Adams, nas Olimpíadas de Atenas de 2004, no World Youth Day em 2005 – onde o papa esteve presente – e também no Friendshipfest Marrocos para uma verdadeira multidão de muçulmanos.

Em cruzadas evangelísticas, Delirious? já esteve com Joyce Meyer e Reinhard Bonque. Benny Hinn costuma cantar as canções do grupo em suas conferências.

Em pouco mais de 10 anos, a banda já passou por todos os continentes, visitando mais de 100 países. Neste ano, sua turnê está concentrada nas Américas. Entre um intervalo e outro dos shows que realizam nos Estados Unidos, o grupo concedeu esta entrevista exclusiva à Enfoque antes de embarcar rumo ao Brasil para quatro noites de louvor e adoração.

* Extended Play – nome dado a uma gravação em vinil ou CD que é longa demais para ser considerada um compacto e muito curta para ser classificada como álbum.

ENFOQUEComo iniciou o relacionamento da banda com o mundo da música secular e de que forma o rótulo “gospel” contribuiu ou prejudicou no estabelecimento deste processo?

DELIRIOUS? – Sempre tivemos a visão de levar nossa música para fora das paredes da igreja. Por isso, temos sido muito receptivos às oportunidades que surgem em nosso caminho, sobretudo aquelas que facilitam a realização desse sonho. Todavia, nossa experiência com o mundo da música secular ainda é pequena. Talvez, uma das razões pelas quais não atingimos um sucesso ainda maior nesta área é justamente pelo fato de sermos rotulados como “banda cristã”. Em nossa opinião, esse rótulo não ajuda a compreender o que isso significa.

ENFOQUEPor muitos anos, Delirious? pareceu estar dividida entre o fazer música para a igreja ou fazer música para o meio secular. Em uma das entrevistas de Martin no Brasil em 2006, ele chegou a enfatizar que apesar de o mundo tocar algumas de suas canções, a banda não é completamente aceita no mercado secular em função da orientação cristã do grupo. Afinal, qual o futuro da música gospel? Produzir para a igreja ou para o mundo?

DELIRIOUS? – Esta é uma grande questão para a qual muitas bandas cristãs estão à procura de uma resposta. Será que realmente podemos ser bem-sucedidos em ambos os mundos? Nós, particularmente, cremos que muitos adorariam acreditar que existe ou que, pelo menos, deveria existir uma pequena divisão entre o sagrado e o secular. Mas, veja só, mesmo sem trazer o elemento espiritual à discussão, geralmente a música que fazemos no mundo cristão não se encaixa ao mundo secular, da mesma forma que uma canção country ou western não se ajusta ao cenário da música clássica ou hip-hop. Por isso, de muitas maneiras Delirious? tem tido a visão de ingressar no universo da música secular, mas sem muito sucesso. O sucesso que tivemos nessa área é, sem dúvida, em função do apoio do povo cristão que está por trás de tudo isso. Temos certeza de que sempre haverá um grande futuro para a música gospel/cristã se estivermos falando de canções que estarão lá para apontar Jesus. A igreja está em movimento e é uma igreja adoradora. Então sempre haverá canções que expressem essa nossa adoração a Deus. Agora, se você perguntar quanto ao mercado gospel para a venda dessas canções, daí já é uma questão totalmente diferente.

ENFOQUESabe-se que a banda lança um álbum a cada dois anos e um projeto ao vivo a cada ano seguinte. No decorrer desses 18 anos de trabalho, qual a fonte de inspiração para tantas músicas?

DELIRIOUS? – Nossa motivação vem principalmente da vida e dos relacionamentos. Obtemos inspirações em nossas viagens, na leitura de livros e escutando notícias. Mas, de forma mais ampla, abordamos os nossos relacionamentos e, acima de tudo, Deus. Assim, deixamos que tudo aquilo que Ele é e o que somos influenciem nossas canções. Assim, procuramos fazer a nossa parte para ver o reino de Deus realmente estabelecido em todas as áreas da vida.

ENFOQUEMartin e Stu são amplamente conhecidos como os compositores da banda. Mas, ultimamente, algo tem chamado a atenção dos mais detalhistas. Desde o álbum The Mission Bell, as canções deixaram de ser creditadas a Martin ou Stu para serem creditadas à banda como um todo. Algum motivo especial?

DELIRIOUS? – Embora Martin e Stu continuem a ser os principais compositores, acho que todos reconhecem as influências consideráveis que todos os componentes trazem às canções. Isso acontece através de nossas conversas, do tocar junto. Por essa razão, decidimos refletir esta unidade nos créditos das composições.

ENFOQUEHistoricamente, boa parte dos álbuns lançados pela banda tem obtido sucesso imediato nas primeiras semanas. Qual a estratégia utilizada para tornar esses projetos tão conhecidos, chegando às paradas de sucesso antes mesmo do lançamento?

DELIRIOUS? – Geralmente, lançamos singles (uma música demonstração) para ajudar a trazer visibilidade para um álbum que será lançado, e isso acontece principalmente em territórios que tenham uma presença marcante de rádio. Ultimamente, nossa estratégia tem sido mais global. Disponibilizamos uma ou duas músicas para download em nosso website e, assim, pessoas em todo o mundo têm a chance de ouvir um material novo.

ENFOQUEAté hoje, ao que parece, a música gospel tem sofrido uma forte resistência do mundo secular. Como pioneiros neste nicho, como a igreja poderia melhor utilizar a música para influenciar o mundo?

DELIRIOUS?– Há muitas maneiras de os cristãos influenciarem o cenário musical. Há pessoas que estão escrevendo canções focadas apenas na igreja, outras pensando naquelas que estão fora dela. Às vezes, pelo fato de falarmos diferentes línguas, parece que precisamos escrever essas canções de formas diferentes. Mas, de maneira geral, entendemos que parte do insucesso do povo cristão no mundo secular se deve ao fato de que eles estão tentando usar sua música demasiadamente com o intuito de pregar o Evangelho. É preciso considerar que nosso exemplo de vida também fala às pessoas, e, com isso, nossas canções não precisam dizer tudo. É importante ressaltar que há muitas canções que carregam a presença de Deus sem necessariamente pregar às pessoas.

ENFOQUEAs canções do Delirious? são conhecidas por serem um mix de rock com literatura. Há um preparo especial que demande mais tempo no processo de composição, já que a visão da banda é atingir o mercado secular?

DELIRIOUS? – Letra e melodia são importantes, não importa o tipo de pessoa para a qual elas estão sendo escritas. Certamente, o processo de escrita não deveria demandar mais do nosso tempo quando o assunto é não-cristãos, sobretudo se estivermos dando o nosso melhor em todas as canções que escrevemos. Se pensarmos naqueles que ainda não conhecem a Jesus, então deveria ser muito mais fácil, ainda mais se estivermos levando a sério nossa missão aqui na terra.

ENFOQUENesses quase 20 anos de experiência ao redor do mundo, o que diriam sobre a teoria de que a música pode mudar a história de uma nação?

DELIRIOUS? – Não estamos convencidos de que a música pode mudar a história de uma nação. Entendemos que somente as pessoas podem fazer isso. E pessoas que possuem o Espírito Santo têm muito mais chances. Como banda, reconhecemos que a música pode ser uma grande influência e, por isso, queremos que nossa música contribua para mudar as pessoas, para daí, então, talvez mudar uma nação.

Os cinco rapazes da banda Delirious? deixaram seus empregos para se dedicar exclusivamente à música. O grupo já visitou mais de 100 países e é comparado ao U2

ENFOQUEQual a opinião de vocês sobre a música gospel no mundo?

DELIRIOUS? – Está vagarosamente evoluindo, mas também temos que lembrar que há muitos cristãos que estão fazendo belíssimos trabalhos musicais. Eles apenas não operam sob o rótulo de música gospel.

ENFOQUENo Brasil, alguns cantores gravaram suas canções, como David Quinlan, Aline Barros etc. Vocês já ouviram essas versões?

DELIRIOUS? – Ainda não as escutamos, mas é realmente encorajador saber que outras pessoas estão usando nossas músicas, particularmente se elas o fazem em seus próprios idiomas. Isso é ótimo.

ENFOQUEComo conciliar família e uma agenda lotada de shows em todo o mundo?

DELIRIOUS? – Tentamos estabelecer uma regra de não ficarmos longe de casa mais do que 10, 12 dias, e que faríamos isso, no máximo, quatro vezes ao ano. No restante do tempo, nossas viagens são geralmente inferiores a uma semana.

ENFOQUEEsta é a segunda vez que vocês vêm ao Brasil. A primeira no Brasil Jovem 2006. Qual a expectativa para os shows?

DELIRIOUS? – Esperamos ansiosamente por este reconectar com as pessoas e também poder tocar novas canções de nosso álbum Kingdom of Comfort, que será lançado em abril. Nós amamos o povo brasileiro e realmente esperamos que sejam momentos maravilhosos.

ENFOQUEPara finalizar, mandem um alô ao povo do Brasil.

DELIRIOUS? – Muito obrigado por nos recepcionarem de forma tão calorosa no país de vocês. Para nós, isso é um privilégio, ter a chance de vir e tocar nossa música com todos vocês. Voltaremos assim que possível. Obrigado.

Agradeço pela sua visita, estou me esforçando pra postar assuntos interessantes.
Se quiser, deixe recado ficarei muito alegre. Abraços fique com Deus, até o próximo post.

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