segunda-feira, 28 de abril de 2008

Evangelismo proibido

Brigas e polêmica nos trens de SP

Cerca de 870 mil pessoas utilizam, diariamente, os trens de São Paulo. São 272 km de vias, em seis linhas interligadas, que atendem 22 municípios da Grande São Paulo. Nesses meios de transporte, há sonhos e frustrações. Pessoas inquietas, sem paz de espírito ou cheias de expectativas com relação ao futuro. E é para alcançar esse público que age a Cruzada Evangelística Interdenominacional Trem das Boas Novas – um grupo que realiza um trabalho evangelístico nos trens da capital. Depois de vinte anos realizando esta ação, bastante elogiada e que já ajudou a salvar vidas, o grupo está sofrendo impedimentos pela direção da própria Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) – autarquia que administra a linha. A confusão, que já parou na polícia, deve ser resolvida apenas na Justiça.


Vereador Carlos Bezerra Júnior e pastor Marcelo Silva conversam com representantes da CPTM sobre extinção do evangelismo. A atitude, considerada arbitrária pelos dirigentes, deve ser resolvida na Justiça

O desentendimento começou, segundo o pastor Marcelo Oliveira Silva, diretor da Cruzada Evangelística, após o início da gestão do presidente da CPTM, Álvaro Cardoso Armond. Há cerca de seis meses aumentou o número de retaliações aos irmãos, que, de forma grosseira, estão sendo expulsos dos vagões. A justificativa da CPTM é que os usuários estão reclamando do trabalho e a companhia segue o decreto federal nº 1832 de 04/03/96, que não permite esse tipo de ação. “Todos os nossos missionários têm identificação, e eles são supervisionados por um líder. Nosso trabalho é sério”, defende-se o pastor, que acusa a CPTM de colocar policiais à paisana vigiando os missionários, e mais: expulsando-os dos trens com violência. A Cruzada afirma que há cerca de 15 boletins de ocorrência devido a agressões e cárcere privado. O próprio presidente da Cruzada ficou preso numa pequena sala e foi impedido de ir para o trabalho.

O pastor desmente que haja reclamações referentes à ação do grupo. “Há evangelismo, música e até confraternizações em datas especiais. A população aprova. Centenas de pessoas já foram transformadas e algumas encaminhadas para clínicas de recuperação de drogas”, conta. Através de uma audiência, requerida pelo vereador Carlos Bezerra Júnior (PSDB), foi solicitada à direção da CPTM uma cópia das reclamações.

Na audiência, que tenta um acordo entre evangélicos e governo, foi sugerida a criação de uma comissão para ajudar no trabalho. “Impedir iniciativas como essa é antidemocrático. Não se pode cercear nem tratar com brutalidade cidadãos que estão professando sua fé de forma pacífica”, critica. Após a reunião, foi encaminhado à CPTM um documento solicitando a garantia de que a Cruzada Evangelística não seja alvo de truculência policial novamente.


Pastor Marcelo Silva mostra a dezena de boletins de ocorrência devido a agressões em trens da CPTM

Com base nas declarações da assessoria de imprensa da Companhia, chegar a um consenso não será tarefa fácil. Em nota, a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos explica que é proibida a realização de pregação religiosa no interior dos trens, assim como qualquer outra atividade que cause transtorno aos usuários. A nota vai além e afirma que antes da adoção de medidas regulamentares à pregação religiosa no interior dos trens e estações, a CPTM, voluntariamente, visitou várias igrejas evangélicas para informar sobre essa legislação, esclarecer dúvidas e solicitar a colaboração de todos para pôr fim a essa prática que gera, por dia, dezenas de reclamações à companhia. Sobre a agressão aos evangélicos, a assessoria nega. “Os agentes seguem conduta determinada pela companhia e todas as ocorrências são notificadas à gerência responsável pela área”, finaliza. De posse das declarações, a direção da Cruzada Evangelística Interdenominacional Trem das Boas Novas promete ir à Justiça para garantir a realização do trabalho evangelístico.

NO RIO, EMPRESA APÓIA INICIATIVA

Também realizado há vinte anos, o projeto Evangelismo nos Trilhos, realizado no Rio de Janeiro, tem o apoio da SuperVia – empresa que administra o sistema viário. Todos os dias, uma equipe, em horários específicos, distribui panfletos, promove momentos de oração e cânticos. Há também o tradicional aniversário do horário. Num dia do mês, numa determinada hora, é realizado um momento de confraternização com bolo e guaraná. “Resultados? Eu, pessoalmente, já presenciei pessoas entregando suas vidas a Jesus Cristo e confessando-O como Salvador, assim como vi também pessoas afastadas se reconciliando com Jesus”, relata o técnico em Informática Ronald Rosa, membro da 2ª Igreja Metodista Wesleyana em Nova Iguaçu, coordenador de um dos projetos. A SuperVia, para não incomodar os outros usuários do sistema, cedeu um vagão para o Evangelismo nos Trilhos.


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