sexta-feira, 25 de abril de 2008

Sexo liberado?

A igreja diante da sexualidade

O sexo, citado múltiplas vezes na Bíblia, além da função vital e reprodutora, é abençoado e estimulado entre os casais que firmam diante de Deus suas alianças eternas. Pertencer ao seu marido ou à sua mulher é mais do que uma oportunidade de maior conhecimento mútuo. É enriquecimento, demonstração do amor de um pelo outro, da lealdade e da cumplicidade.

Atualmente, entretanto, o problema das relações sexuais entre crentes passa por um período turbulento e angustiante para alguns. E o cerne da questão está no panorama explicitamente notório de que muitos estão praticando sexo fora do casamento, seja como solteiro, como descasado, ou até como casado. No mundo moderno, onde se vê, a cada dia, mais e mais praticidade, casa-se e descasa-se assinando papéis. O compromisso é meramente civil, daí não existir qualquer limite para a prática sexual. O veterinário Augusto César Silvério, 36, três casamentos, concluiu, após o término do primeiro, que “casar é fácil, descasar é mais difícil, mas a gente vai levando e tocando o barco como dá”.

Desprovida dos ensinamentos bíblicos, de sintomas aparentes de moral e ética, a sociedade extra-murus não distingue entre o compromisso firmado com Deus e o sentido mais mundano e desgastado da palavra amor. Como sinônimo de impulso, desejo, atração ou simplesmente “tesão”, homens e mulheres crentes são vistos como “anormais” diante de um mundo virado de ponta-cabeça, desde o advento da liberação sexual, da pílula anticoncepcional, da minissaia de Mary Quant e das atitudes libertárias de Betty Friedman. Isso porque o prazer sexual, conforme as orientações bíblicas, deve ser canalizado para o casamento. Mas não é o que tem acontecido ultimamente.

É importante lembrar que, durante muito tempo, falar sobre sexualidade foi um tabu. Era motivo de rechaça nas famílias mais conservadoras. Nas igrejas, o assunto era demonizado. O prazer estava condicionado a obra da carne e ociosidade da mente. Os relacionamentos também seguiam esta linha. Quem ousasse assumir um namoro, em pouco tempo era pressionado a formalizar um casamento. A desculpa de pastores e líderes da época era de que o casal não podia dar “brecha” ao inimigo. Enquanto naquela época havia um espírito repressor forte, hoje há a banalização. Nos dias atuais, o termo compromisso está fora de moda e o “ficar” está em alta. Vale a quantidade e não a qualidade dos relacionamentos.

Até mesmo a garotada evangélica tem optado por esse caminho. Hormônios em plena ebulição somados à falta de informação não produzem os melhores resultados, segundo pesquisa realizada pelo Ministério Lar Cristão. Após entrevistar cerca de cinco mil adolescentes de 22 denominações, entre 1994 e 2000, foi constatado que 52% deles, criados na igreja, já tiveram relações sexuais antes do casamento.

A pesquisa revelou que metade desses jovens tem vida sexual ativa com um ou mais parceiros. Dezessete por cento das adolescentes entrevistadas ficaram grávidas pelo menos uma vez, e quatro de cada 100 optaram pelo aborto. Segundo a investigação, os rapazes evangélicos se iniciam sexualmente, em média, aos 14 anos de idade, e as meninas aos 16. O escritor e pastor batista Jaime Kemp, presidente do Ministério Lar Cristão, coordenador da pesquisa, declarou que os resultados do levantamento são preocupantes. “É um grande erro iniciar a educação sexual somente na adolescência. As crianças já estão expostas a um mundo altamente erotizado. Se não há uma preparação desde a infância, quando a igreja se der conta, pode ser demasiado tarde”, argumentou o psicólogo Ageu Heringer Lisboa, do Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos.

A verdade, mesmo que velada, mas ainda assim assumida por alguns evangélicos, é que a interpretação da graça divina resolve qualquer problema. Há exemplos clássicos de jovens, não só brasileiros, mas norte-americanos e europeus, que dizem que quando não resistem à tentação, imediatamente após o ato sexual se arrependem, pedem perdão a Deus e pronto, está resolvido. Claro que não é assim.

A estreita ligação entre o demônio e o sexo é, obviamente, a tentação. Na visão do pastor batista Luiz Alves Campello, o acompanhamento cerrado dos pais, desde a pré-adolescência, é a principal arma para vencer o desejo carnal. Ele diz: “As conseqüências do sexo antes do casamento são as piores. O diabo não é bobo e sabe por onde entrar na vida das pessoas. E é pela porta da adolescência que ele entra, instigando a visão da pornografia em todos os meios de comunicação. Não elejo a internet como a secretária do diabo, mas na minha igreja sugiro aos pais que não permitam o uso excessivo da internet, nem da TV a cabo, ou mesmo das novelas, em sua maioria. São obras que dilapidam a família”.

A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO SEXUAL

O Brasil é um país de emergências. Estradas são recapeadas quando o asfalto já fez milhares de vítimas; bocas vão aos dentistas quando não restam opções para a dor de dentes. Quando, apesar de todos os cuidados, atenções e orações, a menina crente de 16 anos entra em casa e diz que está grávida, o que se deve fazer?

Enfoque optou por respeitar a privacidade de algumas entrevistadas cujos nomes elas pediram que não fossem divulgados. Vânia, nome fictício, conheceu o namorado na igreja. Ambos evangélicos, de famílias tradicionais, tornaram-se alvos de incentivos e de encorajamentos pela relação, desde que abençoada por Deus e, portanto, sem sexo de forma alguma. Sempre juntos, Vânia e Alberto, junto com as famílias, foram ao acampamento em Barbacena (MG), onde o coral iria se apresentar. E foi lá que tudo aconteceu.

Hoje, grávida de 8 meses, Vânia conta como foi a reação dos pais diante da nova situação. “Eles ficaram surpresos! Acho que pensavam que eu não tinha sexualidade e que aquilo jamais teria o risco de acontecer”. Os pais da adolescente foram compreensivos e a apoiaram, mesmo dizendo que a responsabilidade de criar o filho seria dela e de Alberto.

Há quem diga – e não são poucos – que hoje o sexo é pouquíssimo debatido nas igrejas. Tornou-se tema banal, quase esgotado e pouco confrontado por líderes e pais, muitos deles desprovidos de argumentos bem embasados para trocar idéias com a juventude, eufórica em seus hormônios. Mas o que deve e o que não deve ser considerado ato sexual?


Rejane Madeira, aos 19 anos, descobriu que estava grávida. Não teve uma gravidez tranqüila, e seu sentimento, na época, era de rejeição e inferioridade

Será que apenas a penetração é considerada pelas igrejas como prática de ato sexual? E quanto aos casais de adolescentes e jovens que ficam nus, se masturbam, fazem sexo oral e, portanto, não praticam a penetração vaginal? Muitas vezes, sim, a anal?

A psicóloga Lucy Morato, que se especializou no atendimento a adolescentes, se posiciona de maneira pouco ortodoxa. “O melhor para os nossos filhos é que as igrejas decidam se reformulam seus conceitos e reinterpretam os textos bíblicos ou se acorrentamos nossos filhos aos pés da cama. Porque a concorrência com o diabo é realmente desleal para um jovem cheio de hormônios”.

Elaine Cruz, que escreveu o livro Sexo é Menos, Namoro é Mais (MK Editora), percebe que a sexualidade dos jovens de hoje é exacerbada e antecipada, movida pela erotização e glamourização do sexo. “A Bíblia fala de fornicação, não como erro apenas, mas como pecado. Esta é uma verdade imutável”, afirma a psicóloga. A autora acredita que os jovens não estão sabendo vencer as tentações durante o relacionamento e que não investem em outras formas de prazer, como esporte, amizades, música, artes etc. Ou seja: quase tudo fica canalizado para o sexo.

Na opinião do pastor Vladimir Pinheiro, da 1ª Igreja Batista em Maricá (RJ), o início da vida sexual dos jovens é reflexo da omissão dos pais que estão terceirizando a educação. “Coube à igreja assumir este papel”, frisa. Mas será que a igreja tem a obrigação de fazer isso e o faz corretamente? O que a psicopedagoga e terapeuta da família Rosimar Machado alerta é que é preciso criar um espaço, aberto aos jovens e familiares, para esclarecer dúvidas: “A igreja pode auxiliar em muito às famílias. O diálogo aberto, sem vulgaridade e sem moralidade excessiva é fundamental”, opina a mestre em sexologia.

“Os hormônios parecem ter vida própria”, admite Ana Paula Paiva Aguiar, da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil, em Campo Grande (zona oeste do Rio de Janeiro). Aos 26 anos, ela concorda que não é fácil resistir às tentações durante um relacionamento. “Temos que ter maturidade espiritual, evitar ficar a sós com o namorado, fugir de intimidades, saber que Deus deve estar acima de qualquer relacionamento”, defende. Em seus namoros, ela sempre deixa claro ao companheiro a opção pela abstinência. Essa decisão deve-se ao fato de ter recebido uma educação forte na igreja e em casa.

Assim como Ana Paula, milhares de outros adolescentes e jovens têm preservado seu corpo e sexualidade para o ambiente do casamento. Um deles é o seminarista Guilherme Costa, de 23 anos, membro da Igreja Metodista Wesleyana em Mantiquira, Duque de Caxias (RJ). “A Bíblia diz que o temor a Deus é o princípio da sabedoria. Para quem vive sem Deus, é muito normal transar. Eles simplesmente transam e pronto. Mas quem quer ter um compromisso com Deus entende que Ele estabeleceu o sexo como uma bênção, porém dentro do casamento”, justifica. Guilherme não está sozinho. Se depender do ministério Wait (“espere”, em inglês), muitos outros jovens guardarão o sexo para o casamento.

Fundado em 1997 pela missionária Tonina Freitas, o Wait é um projeto que viaja o Brasil defendendo a abstinência sexual. Funciona no formato de seminários de 12 horas, divididos em quatro etapas e, nas três primeiras, os participantes são convidados a falar sobre sexo e namoro. Eles tiram suas dúvidas, expõem seus medos e são convocados a manter um alvo: conservarem-se sexualmente puros até o casamento. “Percebo que as igrejas não falam sobre sexualidade”, reclama Tonina, que defende a virgindade. Em suas viagens pelo Brasil, a missionária já viu líderes radicais que, preocupados com o crescimento dos índices de gravidez antes do casamento, acabaram proibindo até o namoro. “É mais fácil colocar uma regra geral do que discutir o namoro. Essa falta de informação sobre o que é o namoro cristão torna os jovens mais vulneráveis e isso leva ao erro, que gera a culpa. Mas de Deus vem a convicção, que gera o arrependimento”.


Elaine Cruz, psicóloga e autora de Sexo é Menos, Namoro é Mais, percebe que a sexualidade dos jovens de hoje é movida pela erotização e glamourização do sexo
CASAMENTO EM BUSCA DE SEXO

A impossibilidade de fazer sexo antes do casamento tem feito com que muitos jovens e adolescentes casem cedo para ter um endosso de Deus e da igreja para transarem. Para Gilson Bifano, presidente do ministério Oikos, é muito perigoso esse tipo de atitude, pois gera famílias desestruturadas que não agüentam o dia-a-dia de um relacionamento. “Casar para fazer sexo é um erro. O sexo faz parte de um todo”, frisa Bifano, que só teve sua primeira relação aos 26 anos, quando se casou. Para Elaine Cruz, um relacionamento que começa assim tem tudo para não ter êxito. “Com o tempo, o casal vai perceber que não há tanta compatibilidade entre eles e que o casamento só aconteceu por conta do tesão”, enfatiza.

E quando a moça engravida no período do namoro? Na visão de Bifano, a igreja não deve fazer pressão para que os envolvidos se casem. “Um erro não justifica o outro. O correto é assumir a paternidade. Isso não quer dizer, necessariamente, o casamento”, explica. Foi isso que aconteceu com Luciana Gomes, de Bagé (RS). Criada na Igreja O Brasil para Cristo, ela recebeu toda a orientação necessária. Por uma “fraqueza”, engravidou aos 17 anos. O episódio ocorreu há vinte anos, quando a sociedade era ainda mais conservadora com as mães solteiras. Ela e o namorado, na época não-evangélico, optaram por casar. Para a felicidade de Luciana, a família e o pastor deram todo o amor e acompanhamento. “Se isso não tivesse acontecido, talvez eu nem estivesse mais na igreja”, declara. Ela admite que não sofreu preconceito e concorda que uma menina, aos 17 anos, não tem maturidade suficiente para assumir uma família.

A mesma sorte não teve Rejane Madeira, da Igreja Batista em Florianópolis. Aos 19 anos, descobriu que esperava um bebê. Foi logo contar ao pastor, já que estava envolvida em diversos ministérios na igreja. Não teve uma gravidez tranqüila, e seu sentimento, na época, era de rejeição e inferioridade. “Pedi perdão, mas as regras não foram as mesmas para todas as pessoas que passaram por situações semelhantes na igreja”. Sozinha, Rejane foi excluída pelo grupo. Sobraram poucos amigos daquela época. Hoje, aos 26 anos, ela acredita que as mães solteiras sofrem um certo preconceito.

HÁ CONTROVÉRSIAS

A psicóloga Rosemar Miranda desenvolveu uma pesquisa de mestrado buscando entender a construção da sexualidade dos adolescentes do século 21. Foram entrevistados cerca de 300 adolescentes entre 12 e 18 anos de idade que cursavam entre a 5ª e a 8ª série do ensino fundamental em escolas públicas de São Gonçalo (RJ). Uma das conclusões foi que os adolescentes, apesar de toda a pressão que recebem, lidam com a sexualidade de forma bastante diferente do que se tem falado. O índice de adolescentes que iniciam sua vida sexual antes dos 17 ou 18 anos não corresponde ao que se acredita. Dos 142 rapazes pesquisados, 66%, ao responderem diferentes perguntas sobre o tema, se mostraram virgens. Das 158 moças, mais de 80% se “denunciam” virgens. Ou seja: os jovens sentem vergonha de assumir sua virgindade. “Ser virgem no mundo de hoje é sinônimo de vergonha. E mesmo os adolescentes evangélicos têm dificuldades para assumir essa condição. Muitos se precipitam por não suportarem a pressão e iniciam uma vida sexual sem que assim o desejem. Outros iniciam por acreditarem que eles são os únicos virgens do grupo. Principalmente no caso dos rapazes, ainda hoje essa pressão é maior”.



CRISTÃOS ADULTOS EM CRISE

Em relação aos adultos, Elaine Cruz admite que para quem já experimentou o sexo, seguir as regras cristãs da abstinência é muito mais difícil: “Um cristão adulto que está sozinho, seja divorciado ou viúvo, vai sentir vontades e desejos, mas se estiver afetiva e emocionalmente bem suprido com afazeres, metas, amizades e filhos, poderá se manter puro até se casar de novo”, a psicóloga acredita. “A Bíblia também diz que Deus não permite tentação maior do que se pode suportar. Então é possível ficar sem sexo até o novo casamento”.

Ela observa ainda dois aspectos: primeiro o da pessoa que durante o casamento teve um sexo muito ruim e, quando se separa, decide não ter mais relações; daí encontra um namorado pelo qual sente atração, acaba experimentando um sexo muito bom e não tem coragem de parar. O outro caso é o daquele que, ao contrário, teve um sexo muito bom no casamento. Segundo a psicóloga, esta pessoa tem menos chance de “entrar numa furada”, seja por carência ou desconhecimento, “porque sabe que o sexo era bom por causa do respeito, da admiração, do carinho e do compromisso que havia”. Elaine ressalta que, em geral, os descasados mais carentes são mais suscetíveis ao sexo. Para ela, vale o conselho: “Antes de se envolver sexualmente de novo, é preciso curar a alma”.

Para a enfermeira Fátima Almeida, ensinar os filhos a viver de acordo com a Palavra de Deus é mais do que necessário, mas ela indaga: “Que tipo de exemplo os adultos solteiros e descasados têm dado?” E traz uma constatação e um alerta: “O que vemos, muitas vezes, é que dentro de suas próprias casas, os jovens convivem com as fraquezas e dificuldades de seus pais para praticarem o que a Bíblia manda sobre vida a dois. Considero urgente uma conscientização desses adultos no sentido de agirem com mais coerência, não só para se tornarem bons exemplos, mas também contribuindo para a saúde espiritual de seus filhos”.


Pastor Vladimir Pinheiro avalia: “O início da vida sexual dos jovens é reflexo da omissão dos pais, que estão terceirizando a educação”
PUNIÇÃO OU TERAPIA?

Sob o ângulo eclesiástico, o pastor batista e professor de Teologia Valtair Miranda corrobora que sexo fora do casamento, em que circunstância for, é transgressão moral sujeita à disciplina da igreja, podendo chegar até a exclusão do rol de membros e conseqüentemente da Santa Ceia. “No entanto, toda disciplina visa a restauração da pessoa. Precisamos sempre identificar a causa do problema”, ele diz. Para Miranda, às vezes o membro da igreja até desconhece que é pecado, pela forma agressiva com que a sociedade vem incentivando tais práticas, “mas em outros ele sabe que é um erro e faz escondido, cabendo, então, a disciplina”.

O pastor batista afirma não ter encontrado ainda um caso jurídico que justifique a união de dois adultos cristãos sem que haja casamento. “Eles até podem chegar à igreja assim, pois serão acolhidos, mas se quiserem tornar-se membros de uma igreja batista, vão ter que casar”. De acordo com Miranda, é importante estar em paz com a lei e a justiça, por isso o casamento civil é considerado mais importante que o religioso. “Casar apenas no civil não é transgressão. O civil é o que vale para nós. O religioso é apenas a bênção do Senhor para a sua casa”.

A disciplina pode ser também o destino daqueles membros pegos em práticas de pornografia pela internet, mas, nesses casos, o pastor Miranda acredita mais na terapia. Ele diz não ter se deparado ainda com o problema, mas sabe que, em caso de vício sexual, o caminho deve ser a terapia e os grupos de mútua ajuda. “A igreja tem ferramentas próprias para lidar com isso também, como o aconselhamento e os grupos de casais. Acredito que não se precise chegar a extremos. Só não pode é fingir que não está acontecendo. Temos que estar atentos e atuantes”.

O QUE É SEXO ILÍCITO?

Talvez a conhecida misericórdia de Deus e sua capacidade de perdoar possam servir de estímulo à prática de alguns pecados sexuais; no entanto, é preciso levar em conta que o próprio Deus adverte que aquele que se encontra nessa condição deve se converter urgentemente dos maus caminhos, pois seu passado na fé de nada valerá se persistir no erro. “Quando eu disser ao justo que certamente viverá, e ele, confiando na sua justiça, praticar iniqüidade, não virão em memória todas as suas justiças, mas na sua iniqüidade que pratica, ele morrerá” (Ez 33.13).

Para o pastor da Igreja Presbiteriana Libertas, Clinton César, o papel da igreja nesses tempos em que os padrões habituais de sexualidade parecem estar em cheque, é o de instruir, encorajar e criar um ambiente para uma vida de santidade. “Não creio que a igreja tem a responsabilidade de ‘patrulhar’ a vida dos seus membros. Jesus nunca fez isso. Ele confrontava as pessoas com a verdade, mas ao mesmo tempo as acolhia com amor e graça”, afirma.

No entendimento desse pastor da zona sul do Rio de Janeiro, a igreja da pós-modernidade está sendo confrontada, mas é inquestionável que qualquer envolvimento sexual fora do casamento se enquadra naquilo que a Bíblia chama de “relações sexuais ilícitas”. O grande desafio, porém, para o pastor Clinton, é entender o que significa hoje “dentro do casamento”.

“De que casamento estamos falando? Do civil, do religioso, ou dos dois? O que significa estar casado? Muitas vezes, a lei impede o casamento civil, mas não o casamento religioso. Outras vezes, acontece o contrário: pessoas não querem o casamento religioso, mas casam no civil. Existe ainda a lei da união estável do novo Código Civil, plenamente reconhecida pelo Estado brasileiro. De todo jeito, o casamento é um compromisso público, social, que legitima espiritualmente o sexo entre um homem e uma mulher. O que a Bíblia não reconhece é o sexo sem compromisso, sem fidelidade, sem legitimação. O sexo avulso, do tipo ‘livre e descomprometido’, isto sim é sexo ilícito”, Clinton esclarece.

Quanto à lascívia entre os crentes, líderes, pastores, homens e mulheres casados que usam a internet para extravasar suas fantasias sexuais – e que eventualmente têm parceiros e até fazem sexo virtual por lá –, Clinton acredita que o pecado não está no ato em si, mas, como disse Jesus, na intenção do coração. “Qualquer um que olhar para uma mulher com intenção impura, já adulterou, não dá para fugir disso. Assim, uma relação sexual virtual é tão pecado quanto um adultério no mundo real. Para a igreja, porém, é muito mais difícil lidar com essas situações, porque elas ocorrem sem que ninguém saiba. Por isso, eu insisto que o foco da igreja deve ser na instrução e no encorajamento a uma vida santa. A santificação em si é obra do Espírito Santo”, o pastor presbiteriano conclui.


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